20/05/2020 - 239 dias
Fomos dormir, Theo e eu. Na sua máscara bem que ele parece um pequeno astronauta, o mais bonito de todos. Ele parecia tão aliviado por estar sem o tubo e por estar de folga da prisma naquela noite. O cansaço começa a se acumular nos músculos do meu corpo e aproveito todas as oportunidades para cochilar. Coloco um lençol sobre meu rosto para diminuir um pouco a luminosidade permanente do quarto de UTI. Tem uma dezena de equipamentos monitorando o Theo, se precisar ajustar qualquer coisa o equipamento vai apitar. O monitoramento ajuda a tranquilizar.
A 1:30 da madrugada, acordei com um barulho, (alarme de equipamentos) cada vez mais alto. A luminosidade aumentou. Quando consegui me virar no sofá para levantar a enfermeira e a técnica de enfermagem já estavam em volta do berço mexendo nele, uma terceira veio empurrando o carrinho com equipamentos, tinha uma placa de acrílico nas mãos.
Minha mente não conseguia racionalizar o que elas estavam fazendo, eu não tinha coragem de olhar para o Theo. Encolhida no cantinho do quarto eu foquei no monitor de sinais vitais. Todos os parâmetros caiam rapidamente, todos eles de uma vez só. A frequência cardíaca 50, 45, 40, 35, 30.... A saturação de oxigênio que estava em 100 quando eu fui dormir despencava para 70, 60, 40, 20, 10…. Naquele 10 eu entendi: é agora, está acontecendo, é o fim, é assim que o meu bebê morre, que a história dele acaba.

Eu pensava que não está certo morrer assim, é injusto morrer assim por tão pouco depois de tudo que nós fizemos e conquistamos. Nós passamos por tanta coisa assustadora, vencemos as batalhas mais difíceis e ele está morrendo sem que eu possa fazer nada.
Quando a saturação chegou em 8 os esforços da enfermeira foram começando a dar resultado, com a ajuda do ambu (respirador manual) ele voltou a respirar.
Em pouquíssimo tempo chegou a médica intensivista e a fisioterapeuta. A intensivista comentou que achou que tinham dado o alerta para o leito errado, porque o Theo estava muito estável. Era um clima de pura adrenalina naquele quarto.
E ele se recuperou, minutos depois ele dormia como se nada tivesse acontecido. Quando a equipe ficou convencida da estabilização dele abriram uma brecha para mim ao lado dele. Segurei ele tão forte pelo bracinho miudo, beijei tanto, afaguei tanto.
Ganhamos mais uma chance para viver. Aquelas enfermeiras nos deram mais uma chance de fazer todas as coisas que queremos fazer, de viver toda a felicidade que queremos ter. Abraçaria forte cada uma delas se não fosse tempo de Covid. Depois sentei porque minha pressão caiu muito, elas me trouxeram um pouquinho de sal.
Nem sei como consegui dormir depois.
Não aguento mais vê-lo quase morrer na minha frente.
Comments