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  • Foto do escritorSuelen Weiss

15 - O (não) crescimento

25/04/2020 - 214 dias


Na segunda teve consulta presencial marcando a chegada do sétimo mês. A pressão arterial estava alta. O peso estagnou, o crescimento do corpo e diâmetro da cabeça estagnaram. Liga o alerta.


O Theo provavelmente não está comendo o suficiente para crescer. No primeiro ano de vida isso pode significar o comprometimento do desenvolvimento cognitivo também. Eu gelo toda vez que penso isso. É como se o dilema “é Joubert x não é Joubert” estivesse aqui nas minhas mãos novamente, só que dessa vez depende de uma coisa simples como alimentação. A médica sugere que o crescimento dos rins está pressionando o estômago e diminuindo sua capacidade


É o sol que tapo com a peneira diariamente. Essa peneira é o fato de que mamando no peito não há como saber exatamente quanto ele come, mas no fundo sabendo que é pouco.


Já que saímos de casa aproveitamos para dar a vacina dos seis meses. Nada demais. Só que foi demais. Choro, muito choro, irritação, febre oscilante, gritos…. começou poucas horas depois da vacina, avançou peça terça, pela quarta, pela quinta. A gente se desespera na dúvida se é reação da vacina, infecção simples ou COVID19.


Meu marido recua no medo de perdê-lo e na ansiedade. Pode até parecer que seria simples levá-lo no hospital para descobrir. Acontece que se não for, são grandes as chances de que se contamine durante o atendimento no hospital, por isso evitamos.

Com o mal estar ele quase não come - eu faria o mesmo no lugar dele -, grita e esperneia para qualquer tentativa de introdução alimentar. Mesmo sabendo que está errado aproveito a boca aberta de choro para botar uma colherzinha de comida em sua boca. E choro junto. O que mais posso fazer pelo seu desenvolvimento? Não seria pior não fazer nada?



Na quarta viajamos para que os avós, angustiados pela quarentena, pudessem vê-lo ainda que sem poder tocá-lo. Fiquei mais feliz assim tanto por garantir o distanciamento (assegurando tanto avós quanto bebê) quanto por poder continuar fazendo de conta que está tudo bem.



Não queremos falar sobre o que está acontecendo com ninguém da família nem amigos porque o julgamento é sempre áspero e severo. Não precisamos de mais isso. Não precisamos que ninguém sugira que o leite que ordenho à duras penas é fraco, que não pode ter febre tantos dias sem ser doença, que é frescura se recusar a comer, que não oferecemos comida suficiente, que oferecemos a comida errada, que dorme demais, que dorme de menos ou que quer que seja. Todos querem opinar. Não dividir os problemas é nossa maneira mais educada de declinar das opiniões.


Então chega sexta e a febre cessa. O bom humor volta. Hoje ele aceitou comida novamente. Agora sim eu desabo, me deixo esvair no medo do desenvolvimento do meu filho ser seriamente comprometido, pânico de que não tenha uma vida normal. Me sinto diminuída e julgo a mim mesma crendo que não tenho o direito de estar triste tendo meu bebê nos braços. Há 10 meses achei que nem isso aconteceria.


Então, só por esse fim de semana vou surtar, chorar e lamentar - afinal aprendi que tenho todo o direito de sentir tudo, mas depois vou me reerguer. Costurei o nome que orna a porta do seu quarto por teimosia e essa teimosia vai nos levar longe. Essa teimosia vai alimentá-lo nem que seja como uma produção de fois gras.

Importa, mas importa pouco o modo. A luta vai continuar com toda minha teimosia de que isso dê certo e garanta um futuro bom ao meu bebê


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