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  • Foto do escritorSuelen Weiss

26 - Boletim médico

16/05/2020 - 235 dias


Fiquei com o Theo durante o dia e nossa médica pediu que o Cristiano viesse no período da tarde para conversar com os dois ao mesmo tempo. Não poderiam ser boas notícias, poderiam?

“Vamos ver se a sala de boletim médico está aberta para ficarmos mais confortáveis?”.

Sentamos ali, no limiar entre querer saber tudo e ter medo de tudo que saberíamos. A diurese caiu muito. O inchaço aumentou muito. Os parâmetros da ventilação mecânica já estão muito altos. Há uma infecção forte. Os fluidos foram diminuídos ao máximo, a nutrição parenteral cancelada. Vai receber albumina e mais diuréticos. Agora temos que torcer que os rins voltem a funcionar corretamente ou os pulmões ficarão encharcados. Não há mais nada o que fazer.

Aquela salinha de boletim médico começou a se fechar sobre mim, era como se fosse todo o calvário da gestação novamente.


Novamente o Cris foi o valente, enquanto me encolhi entendendo a possibilidade real de não ter mais meu filhinho no meu colo. “Não é possível fazer diálise?”, “numa criança tão pequena só peritoneal, e o peritônio dele não está íntegro por causa da cirurgia”. “Não podemos fazer um transplante?”, “não, ele é pequeno demais e não está forte o suficiente para um procedimento assim”.


“Em algum lugar tem que ter algo que possamos fazer, não queremos economizar”. A mãe em pânico não queria o filho sofresse ou sobrevivesse vegetando. Mas o pai estava obstinado como nunca em salvar o filho.


No grupo de WhattsApp assim comunicamos:

“Nossa situação se agravou um pouco. Theo está com uma infecção e ainda está bastante inchado. Está recebendo antibióticos e todos os recursos disponíveis para tentar aumentar a quantidade de xixi. 🙏🙏🙏 torçam todos conosco 🙏🙏🙏. Estamos usando os melhores recursos.”

Quando terminei de escrever esta mensagem para a família, aos prantos, encontrei a médica na rampa do hospital novamente. Me chamou e fomos na recepção, onde o Cris esperava, conversar novamente. Ela falou com outra colega, de São Paulo.


Explicou o caso e esta colega confirmou que sua equipe consegue dialisar crianças pequenas como o Theo. Então, se ele não respondesse à medicação ela conseguiria uma vaga para transferimos.


Nessa mesma noite uma das enfermeiras sugeriu que fôssemos para casa descansar. Nem comentei isso com o Cris. Não houve resposta aos medicamentos. Em poucas horas, em fluxo mental sem igual, o Cris conseguiu a transferência para São Paulo, recebeu uma negativa do plano de saúde e mesmo assim contratou a remoção em UTI aérea, emprestando os limites de crédito da família.

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