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  • Foto do escritorSuelen Weiss

32 - O Exílio

23/05/2020 - 242 dias


Quero nossa vida de volta. Quero minha vida de volta. Minhas rédeas. Minhas escolhas.


Sinto que não tenho mais nada, exilada em outro Estado, outra cidade. Sinto falta de liberdade. De praia, ar livre, de ficar em casa, de caminhar até o mercado. Mais do que a distância me deprime o dia a dia monocromático, insosso. Eu virei uma pessoa monocromática, insossa.


A mãezinha acompanhante, e só.

Não posso reclamar, não tenho permissão para isso. Até tentei, mas já escutei de tantas pessoas diferentes discursos que poderiam se resumir a "se conforme, esse é o melhor tratamento que seu filho pode receber, melhor médico, melhor equipamento e etc.".


Como se eu não soubesse. Não sou idiota. Não ignoro nada disso, mas nada disso faz com que eu me sinta bem ou minimamente viva. Essa não é nossa vida.


Minhas entranhas ardem, meus pensamentos esperneiam, meus músculos reclamam, meu peito seca. Mas aprendi a só responder "tudo bem", porque não sei se mais alguém além do Theo se importa de verdade.


E o Theo, mal posso consolar seu choro enquanto seu corpo fica aprisionado por cateter de alimentação parenteral de um lado, máquina de diálise do outro 24h por dia, máscara full face para respiração bloqueando seu rosto e abafando sua voz, manguito de medidor de pressão preso à perna, meia dúzia de sensores presos ao corpo.


Aqui na UTI, paradoxalmente, para um bebê ser tratado ele não pode se comportar como bebê. Sem colo, sem mamar, sem brincadeiras e contato. Protocolos nos engessam.

São dias cinzas, opacos, sem luz. Minhas lágrimas aqui só atrapalham. Então, está tudo bem.

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