30/05/2020 - 249 dias
Hoje é o décimo sexto dia do Theo na UTI.
A alimentação pela sonda gástrica, que começou bem aos pouquinhos com 5ml, teve que ser suspensa desde o dia 27. Parece que o intestino não respondeu bem. Mas cada vez que pergunto vem uma explicação diferente. Meu bebezinho, em plena fase oral, ficará privado de alimentação por algum tempo.
Qual será o limiar para considerar as restrições que impomos pela sua sobrevivência como egoísmo?

Nos últimos dias ele teve dor. É um bebê e, como tal, não sabe apontar onde dói. Então todo mundo chuta. Ele chora de frio quando alguém tira o cobertor para arrumar o manguito da pressão na perninha, já carimbam que a dor é na perna. Já aparece uma máquina para fazer raio x da perna. Ninguém numa UTI considera de verdade o fato de a mãe ter certeza (absoluta) que o problema não é a perna. Então só para descartar expõe novamente o bebê à radiação.
Nos últimos dias surtamos um pouco com a falta de sossego que o paciente passa. Não há sono pleno. A cada 10 minutos passa alguém para tirar o cobertor e acordá-lo com o estetoscópio.
Sim, para monitorar o bebê que está monitorado 24h por dia com sensores de frequência cardíaca, pulso, temperatura, frequência respiratória, saturação… é o protocolo.
Também é o protocolo que não o deixa dormir, que gera toda uma investigação para saber por que está chorando. Então surtamos sim, pedimos para quem entra falar baixo, voltar mais tarde, para não acordá-lo de propósito.
Surtamos um pouco com cada coisa. O Cris foi a Florianópolis e trouxe a mudança. Surtei um pouco com o fato de que não se trata de escolher o que trazer, escolhemos principalmente o que deixar para trás. Me magoei com o fato de ter tantas blusas de amamentação e não poder amamentá-lo mais. Me senti idiota por ter feito outros planos, por achar que tudo seria suave.
Sinto falta do ritmo de casa, de levar o Theo no jardim para ver árvores, saguis e pássaros. Do som dos pássaros. Do vento sul de Florianópolis. Do nosso sofá. Dos gatos, fiéis escudeiros. Falta de buscar o Theo no berço e lhe dar um abraço forte quando chora. Aqui posso tão pouco. Há muita impotência no exílio.
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