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  • Foto do escritorSuelen Weiss

40 - Estamos preparados?

03/07/2020 - 283 dias


Ontem meu marido avisou uma das médicas que a casa provisória daqui está pronta e preparada para receber o Theo. Ela riu, um pouco debochada. Fiquei irada, como de costume.


Isso me fez lembrar de um ponto que agora parece longínquo na linha do tempo. Era 12/02/2019, acordei de madrugada para ir ao banheiro.

Naquele mês, diferente dos outros, meu ciclo foi coerente e previsível, mas como ainda não havia menstruado decidi fazer um teste de gravidez antes de ir para a aula de squash. Protocolar, eu diria… estávamos tentando há tanto tempo e eu já tinha visto tantos "Não grávida" que estava dessensibilizada.


Voltando à madrugada, resolvi fazer o teste de uma vez pra não esquecer de manhã, fiquei meio dormindo em pé no banheiro esperando o resultado. Quando vi estava escrito "grávida" e uma ampulheta indicava que o resultado ainda estava sendo processado. Que coisa de mal gosto, pensei, colocar expectativa na cabeça da mulher pra só depois aparecer o "não". Aí terminou: grávida, 2 a 3 semanas.


Meu corpo todinho formigou, o chão faltou. Respirei, virei o teste de cabeça pra baixo tentando me certificar que era isso mesmo. O meu desespero era "NÃO ESTÁ NADA PRONTO!


O quarto não está pronto, o mobiliário não está pronto, o telhado tem goteiras, como eu posso estar grávida se eu não tenho nada pronto?"


Parece loucura, mas é uma loucura bem pequenininha, juro. Gosto de analisar tudo, me planejar e estar preparada para qualquer coisa que puder acontecer. Dá uma sensação (ainda que ilusória) de controle da vida.


Por sorte eu estava de frente para o espelho e me vi ali de olhos esbugalhados, muito esbugalhados, descabelada, cara de louca. Entendi que não é possível estar totalmente pronta e preparada para a maternidade.


E o tempo passou.

Meses depois no auge do barrigão, quando acordei com a bolsa estourada, quis por um instante com muita força que houvesse algum modo de desfazer aquilo, porque sabia que meu filho poderia não sobreviver ao parto e eu não estava pronta para me despedir dele. Todo o "luto vivo" da gestação não me preparou para aquilo.

Mais tempo passou.

Meses depois, quando ele estava entubado em Florianópolis e a médica disse que só poderíamos torcer para que ele melhorasse, eu não estava pronta.


Eu não sentia que tinha valorizado o suficiente a última vez que peguei meu filho nos braços enquanto estava acordado, não lembrava se disse "eu te amo" antes da cirurgia, eu não tinha explicado para ele que aquela era a última vez que eu o amamentaria. Eu sentia que não tinha me preparado para aquilo.


E o que é estar preparado? O que é estar pronto? Há um número limitado de cenários que conseguimos prever e em algum momento precisamos nos contentar com isso. As surpresas vão sim acontecer, as boas e as ruins. Eu o Cris preparamos o que é previsível. Estamos sim preparados para levá-lo para casa. Meu medo de não ter nada pronto ficou no passado.



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