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  • Foto do escritorSuelen Weiss

50 - O Dia da Marmota

15/01/21 - 479 dias - Eu sei, parece que só reclamamos, mas o bebê está vivo etc e tal… Ocorre que nos momentos tensos é que fico mais pensativa, cérebro a milhão já que o corpo não pode agir. Quando está tudo bem o corpo físico domina, senta o bebê, carrega o bebê, ajuda na fisioterapia, cuida da casa. Quando não está tudo bem congelo um pouco por fora e fervo por dentro.



Mais uma pancreatite. Dor. Dor. Dor. Tudo se repete em ciclos religiosos de 20 dias. Dessa vez nem tínhamos voltado com a alimentação ainda. Portanto, a hipótese de que a alimentação causava crises foi descartada. Deitei pra "dormir". Essa coisa tem que vir de algum lugar. A cabeça começa a investigação cega na penumbra da noite, revê dados e estatísticas no vulto do lustre tal qual o gambito da rainha. Não é a alimentação. Triglicérides estão controladas. A parenteral é cuidadosamente regulada semanalmente. Sobraram os remédios. E se algum deles ataca o pâncreas. E se eu der só uma olhadinha na bula?

Estava lá, com todas as letras. Já era madrugada, mas estava lá! ...pancreatites têm sido reportadas por pacientes que tomam fenofibrato….


Eu queria gritar muito, só que era madrugada. É uma luz no fim do túnel iluminando a madrugada. Será que pode ser simples assim melhorar esse quadro?

O Theo chora e é minha noite de cuidar dele. Ele já dorme a noite toda quando não sente dor. Quando a dor está lá não quer ficar sozinho. Eu entendo o Theo. Não quero que ele fique sozinho. Embalo ele com uma esperança fixa de que podemos finalmente controlar o problema.

E se não for isso?

Acredito que se não for isso podemos ter um problema bem mais complicado de resolver. Não cabe a mim o diagnóstico, claro. Mas não há ninguém mais engajado numa busca insana dessas do que quem nina o próprio filho que grita de dor. Se não for isso virá novamente a dor física do Theo e também minha dor psíquica de ter fracassado na investigação também.

São momentos nos quais precisamos de super poderes, de resiliência, de garra. Claro que o nosso corpo cobra o preço mais tarde (dermatite, labirintite, diarreia, amigdalite, rinite), mas enquanto a conta não chega precisamos de força.

O esforço contínuo cansa, como cansa. Depois de 243 dias nessa "fase 2", em São Paulo, cansamos de estar sempre no dia da marmota, quando hoje é sempre igual a ontem.

A angústia impulsiona meu hábito de escrever


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