20/01/20 - 118 dias.
Até aqui foi um dia de cada vez, mas também foi uma avalanche de dias, um atropelando o outro.
Tenho tentado estar consciente dos cenários possíveis para a evolução do Theo. Isso tem sido tão desgastante. O Theo está vivo. Até quando? Está sem necessitar de diálise. Até quando? Como vamos proceder com nossas vidas quando for necessário. Não está na fila do transplante. Até quando? E se não conseguirmos doador?
Já me preparei para uma despedida há poucos meses, quando mal o conhecia, mas agora, depois de conhecer seus sorrisos, parece impossível. Só que vê-lo sofrer parece ainda mais insuportável. Se fizer mil planos para sua formatura do ensino médio não será ainda mais difícil perdê-lo no primeiro ano de escolinha?
Prevejo cenários complexos na intenção de me preparar e me proteger. São tantas as possibilidades que consomem minha mente e meu corpo que pede ajuda. Hoje sei que preciso parar com isso de querer prever o que vai acontecer. Viver um dia de cada vez é difícil mas preciso repetir isso como um mantra. Pensar só nos remédio de hoje - anlodipina, propanolol, (eprex foi suspenso temporariamente), ferro, enalapril -, nas mamadas de hoje, nas fraldas de hoje, nas conquistas de desenvolvimento de hoje.
Enquanto isso o Cris corre atrás da divulgação do seu trabalho artístico, fruto do transbordo de emoções da gestação, com uma linda exposição pública dos seus quadros.
Me parece ser muito mais fácil para o Cris descobrir quem é o Cris que para a Suelen descobrir quem é a Suelen. Quem sou? Sou só mãe agora? Se for, será que isso é suficiente? Sei é que não sou a mesma Suelen que estava aqui antes da gestação. Qual é a minha identidade? O que sobrou de mim nesse furacão?
Ainda que ser mãe seja um papel grande e complexo, ele é temporário. Um dia o filho vai fazer faculdade em outro Estado, ou casa, ou muda de país.
Sinto que preciso de outras facetas, outras complexidades. Ao mesmo tempo meu objetivo de vida é levar uma vida leve (minha fixação por organização financeira é reflexo disso). Assumir muitos papéis paralelamente pode me distanciar da vida leve. Nada na vida é simples afinal.