10/01/20 - 108 dias.
Finalmente conseguimos um encaixe para conversar com a geneticista que nos atendeu na gestação. Justo no dia que meus pais estão aqui. Escolhi não dar suspeita da síndrome de Joubert com minha família por que a dor do medo é forte e arde. Já chorei tanto pensando em como isso mudaria drasticamente os marcos que o Theo poderia alcançar na vida, bem como a nossa vida seria bem mais trabalhosa. Descobri na terapia que está tudo bem se eu tiver sentimentos egoístas. Acho que o Theo sentia a minha tensão. Não quis ficar na recepção com os avós de jeito nenhum, chorou, esperneou. Acabou entrando na consulta.
Na minha memória a consulta é todo um borrão, fora o “podemos descartar a síndrome, por enquanto” dito pela geneticista. Eu podia sair voando com o Theo naquele momento, tão leve que me senti. O Theo também sentiu, até sorriu na avaliação clínica.
Na saída pude dizer aos meus pais que doença o Theo não tem. E falando assim soa muito idiota. Ninguém que não passe por isso imagina a carga da tensão e o alívio que deu. É como se eu tivesse lutado por meses contra um imenso dragão imaginário.